SOMOS AQUILO QUE COMEMOS

A diabetes mellitus tipo 2 é uma doença altamente prevalente e com incidência crescente nos países desenvolvidos, verificando-se a mesma situação nos países em desenvolvimento, sendo por isso considerada um grave problema de saúde pública a nível mundial, pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esta situação é ainda mais grave, uma vez que apenas cerca de metade dos diabéticos está devidamente diagnosticada, e é uma doença de desenvolvimento lento, mas insidioso, que pode trazer graves problemas de saúde, sendo das principais causas de insuficiência renal, acidentes vasculares cerebrais (AVC), doenças cardiovasculares, cegueira e amputações de membros inferiores.

A diabetes mellitus tipo 2, muitas vezes, está relacionada à genética: se há casos de pessoas diabéticas na família, provavelmente, haverá predisposição ao surgimento da doença. Porém, são fatores como a má alimentação e sedentarismo que explicam este crescente número de diabéticos. O diagnóstico precoce é uma prioridade de saúde pública, de modo a identificar e iniciar rapidamente o tratamento da doença, e assim prevenir o aparecimento de complicações, que mais elevam os custos de saúde associados.

A prevenção da doença é conseguida através da melhoria da qualidade da alimentação e do nível de atividade física, fatores estes que também são dois dos três pilares de tratamento da doença, a par da medicação e/ou insulina: alimentação e prática de exercício físico são importantes na melhoria do controlo metabólico, controlo  do perfil lipídico (colesterol e triglicéridos) e da tensão arterial, bem como para manter um peso saudável, com o intuito de prevenir o aparecimento das complicações da diabetes.

No que diz respeito à alimentação, estão bem documentados os nutrientes e alimentos que, consumidos em maior quantidade, aumentam o risco de desenvolver a doença e suas complicações. São eles, o consumo excessivo de gorduras, particularmente de gorduras saturadas e de gorduras trans, presentes em grande quantidade na charcutaria, carnes vermelhas, laticínios gordos, manteiga, creme de culinária, peles e gorduras de animais (banha, toucinho), óleo de coco e coco, sendo que as margarinas de culinária, salgadinhos, bolachas, confeitaria industrial, refeições pré-preparadas, e tudo o que contenha “gordura hidrogenada”, são também ricas em gorduras trans.

São também prejudiciais o consumo excessivo de sal (em particular, de sódio), presente em maior quantidade na charcutaria, manteiga e margarina, batatas-fritas de pacote e outros aperitivos, conservas de peixes e hortícolas, azeitonas e tremoços, queijos curados, molhos preparados, refeições prontas a consumir e de fast-food (pizzas, massas, hambúrgueres) ou desidratadas (sopas, molhos), assim como o consumo excessivo de açúcar e de hidratos de carbono de alto índice glicémico, presentes em qualquer tipo de açúcar em natureza, “natural” ou não, pastelaria e confeitaria caseira ou industrial, bolachas e biscoitos, gelados, refrigerantes e sumos de fruta, conservas de fruta, compotas, geleia e marmelada, gomas, rebuçados, bombons e chocolate em geral, e até cereais de pequeno-almoço e pão preparado com farinhas mais refinadas.

Mostraram ser benéficos na prevenção e tratamento da diabetes tipo 2 o consumo de alimentos ricos em ácidos gordos monoinsaturados, presentes no azeite, azeitonas, óleo de amendoim, amendoim e abacate, assim como o consumo de fibras alimentares presentes nos cereais integrais e farinhas integrais ou menos refinadas, leguminosas, legumes e hortaliças, e frutas. Enquanto os alimentos integrais e os legumes e hortaliças têm, em geral, baixo índice glicémico, as frutas têm diferentes índices glicémicos, o que nem sempre as torna alimentos adequados para serem consumidas de forma isolada por diabéticos, devendo ser integradas numa refeição (como sobremesa, entrada ou mesmo fazendo parte do “prato”) ou consumidas com outros alimentos às merendas (com um punhado de frutos secos oleaginosos, iogurte ou queijo magro ou tosta ou pão integrais).

O consumo de peixe, magros e gordos, e o consumo de produtos lácteos magros (leite magro, iogurte natural ou de baixo teor de açúcar, queijos de menor teor de gordura, incluindo queijo fresco e requeijão) são também benéficos na prevenção e tratamento da diabetes. Não foi encontrada relação prejudicial ou preventiva no consumo de frutos secos oleaginosos em geral (noz, avelã, amêndoa, …), assim como no consumo de leguminosas (feijão, grão-de-bico, feijão-frade, ervilhas, lentilhas, …), embora estes alimentos devam ser incluídos no âmbito de uma alimentação saudável, pelo papel benéfico que têm na saúde em geral.

Se tivermos conhecimento do que preconiza a dieta mediterrânica, os seus princípios “encaixam” muito bem nestas recomendações. Sendo uma dieta considerada uma das melhores no que respeita à promoção da saúde, e que se identifica com a cultura e filosofia mediterrânica, onde se inclui Portugal, a adoção da dieta mediterrânica trará benefícios para a saúde e prevenção/tratamento da diabetes mellitus, mas também para a proteção do ambiente e outras preocupações ecológicas atuais, pois preconiza a preferência por alimentos de produção local – menos propensos à presença de grandes quantidades de agroquímicos e com muito menores distâncias percorridas desde a produção até ao consumo, por vezes sem intermediários, conferindo menor pegada ecológica e defendendo o ambiente para as gerações futuras. |

Por Ana Isabel Neves Ferreira

Nutricionista 1218N  

Sócia da www.girohc.pt