“Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir.” 

(Paul Valéry)

Alta sensibilidade… o que significa concretamente? Serei eu uma pessoa altamente sensível? Qual será o meu grau de sensibilidade? Que características distinguem as pessoas com alta sensibilidade? Porque se define como um traço e um dom? De que modo este fenómeno influencia e tem impacto na minha vida e na vida daqueles que me rodeiam?

A Dra. Elaine N. Aron é uma experiente psicoterapeuta norte-americana, uma conceituada investigadora na área da Psicologia Clínica e estuda personalidades com alta sensibilidade desde a década de 90. Pioneira na área e reconhecida internacionalmente, é hoje uma das principais cientistas a investigar o tema da alta sensibilidade, tendo descoberto que as pessoas altamente sensíveis nascem com um sistema nervoso extraordinariamente mais percetivo sobre detalhes muito subtis, facto que lhes possibilita compreender e processar profundamente os estímulos, internos e externos, de forma mais intensa do que as outras pessoas. À luz da Psicologia e da Neurociência, manifestam, assim, um traço inato cuja prevalência é de 15 a 20% na população em geral, traço esse que se revela como um verdadeiro dom, embora ainda muito desconhecido pelas pessoas que não se enquadram nesta exclusiva categoria.

Na condição de Psicóloga Clínica e da Saúde, dedico muito do meu tempo a aprofundar este assunto, numa observação incessante de pessoas altamente sensíveis, seja em conversas particulares, em formações que ministro, em processos de Coaching e/ou em consultas individuais de Psicologia. Mas dedico, especialmente, todo este tempo a analisar esta matéria, porque eu própria sou uma pessoa altamente sensível (PAS). Não me considero uma erudita neste campo, mas apresento-me como uma embaixadora da alta sensibilidade, porque conheço, profundamente e na primeira pessoa, este traço de personalidade com todos os seus privilégios e desafios. Por isso, posso chegar até si, que talvez também se reconhece com uma PAS, ou conhece alguém que o seja, com sincero conhecimento de causa, facilitando-lhe a entrada num incrível e distinto mundo que reflete, sobretudo, diferença, aceitação e pertença.

 

A alta sensibilidade não é uma patologia, não é uma perturbação psíquica, nem um transtorno mental; é um traço congénito de personalidade, que tem sido confundido com timidez ou introversão, e que assenta em quatro pilares:

•Deep of Processing – profundidade do processamento da informação;

•Easily Overstimulated – facilmente sobreestimulados e sobrecarregados;

•Emotional Reactivity and High Empathy – Elevada empatia e reação emocional mais acentuada aos estímulos positivos e ainda mais intensamente aos estímulos negativos;

•Sensitivity to Subtle Stimuli – perceção intrínseca de estímulos subtis.

Neste sentido, ser uma pessoa altamente sensível (PAS) é sinónimo de sentir tudo com grande intensidade e profundidade, tendo maior suscetibilidade para ser afetada pelo ambiente envolvente, pelos outros, pelas suas próprias emoções e pensamentos. As pessoas altamente sensíveis, geralmente, são muito observadoras e com uma enorme capacidade de descobrir pequenos detalhes que permanecem alheios à maioria. Podem revelar-se extremamente intuitivas e empáticas e, por isso, aptas a compreender naturalmente as emoções e os sentimentos dos outros, disponibilizando-se (quase!) sempre para ajudar a todos e (quase!) nunca se posicionando como prioridade. Têm tendência a ficar exaustas quando existem estímulos excessivos ao seu redor e, frequentemente, necessitam de tempo para pausar, acalmar e ficar sozinhas. A chave-mor é investir no autoconhecimento, reconhecer os seus limites e conectar-se. É muito fácil extrapolar esse limite e atingir um estado de intensa irritabilidade, agitação, cansaço extremo ou esgotamento (Burnout). Como refere a Dra. Elaine Aron: “Estabelecer limites saudáveis deve ser um dos seus focos. Eles são a sua responsabilidade, o seu direito e a sua maior fonte de dignidade.”

 

Na verdade, as PAS enfrentam reais desafios: a ansiedade, o stress, a sobreestimulação sensorial, o medo, a culpa e a própria vulnerabilidade. Porém, é no reconhecimento das suas fragilidades que encontram o seu equilíbrio e a sua força, descobrindo nessa força onde residem os seus maiores dons:

Perceção diferenciadapessoas altamente sensíveis têm uma perceção muito fina do seu ambiente e a sua perspetiva conecta corpo e mente de uma forma especial e única.

•Pensamento complexo e inovação – as PAS têm ideias inovadoras, pouco convencionais e visionárias. Dão a volta às questões com muita facilidade e, na sua visão global, chegam tão longe que, por vezes, os outros não conseguem acompanhar.

•Capacidade para resolver problemas – a aptidão para encontrarem soluções e agir em situações de crise está alicerçada em dois fortes fatores: o pensamento complexo e a imensa intuição. Devido à alta sensibilidade, são capazes de gerir “friamente” os casos de emergência, sabendo intuitivamente o que têm de fazer, agindo de modo perspicaz, exato e rápido, e guiando ainda os que são impedidos de atuar pelo pânico.

•Empatia e compreensão social – pessoas com grande necessidade de harmonia e, como tal, contribuem em larga escala para a convivência humana, para uma coexistência pacífica e respeitosa. São mediadoras, conciliadoras, integradoras e promotoras do equilíbrio.

•Forte consciência dos valores – têm um acentuado sentido ético, um enorme senso de justiça e um grande sentido de lealdade. Nessa medida, têm a coragem de enfrentar os reveses da humanidade e de assumir o seu caminho de acordo com os seus valores, sobretudo com as consequências que disso advêm.

•Criatividade e curiosidade – pessoas dotadas de uma imaginação muito fértil e de uma rica vida interior. São avessas à superficialidade e permanecem sempre no nível da reflexão e do aprofundamento das questões. Curiosas e entusiasmadas por natureza, são ávidas de conhecimento e capazes de mudar rapidamente para novos campos de trabalho. 

•Força mental e energia vital – sendo mais propensas ao stress, pela particularidade do seu sistema nervoso, devem pausar e descansar com constância para recuperar do estado sobrecarregado causado pelos inúmeros estímulos que absorvem. Assim, lidando diariamente com a sua alta sensibilidade, desenvolvem uma maior força de vontade, perseverança e resiliência, o que proporciona uma excecional força interior.

Gostaria de saber se é altamente sensível? Não sendo a alta sensibilidade uma doença, não existem diagnósticos para identificar uma pessoa como altamente sensível. E mesmo que (ainda!) não exista validação científica, estão disponíveis alguns questionários, testados solidamente por quem realiza investigação académica nesta área, e que permitem confirmar se, na sua singularidade, pertence ao pequeno grupo da alta sensibilidade. Pode encontrá-los em literatura específica ou recorrendo a ajuda profissional de Psicólogos e/ou Terapeutas que tenham bons conhecimentos neste âmbito e se dediquem à maravilhosa jornada de estudar a alta sensibilidade.

Nos últimos anos, uma mudança interna na sociedade parece estar prestes a eclodir, ainda sóbria, mas nitidamente percetível. O progressivo interesse pelo fenómeno da alta sensibilidade possibilita que muitas pessoas assumam espontaneamente o seu desejo pela manifestação da sua essência e por mais “luz” na sua vida pessoal e profissional.

Se a sua conexão existencial o vincula a uma incontável compaixão por todos os seres vivos, se sente que tem um sismógrafo ligado ao coração sempre que vibram os tremores da humanidade, se a cada volta ao sol lhe doi o mundo inteiro, seja bem-vindo (a) ao admirável mundo novo da alta sensibilidade. Acendeu-se mais uma centelha de consciência. |

 

Por Sara João

Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses 

Fundadora da Marca e do Programa Travel 2 Be U® Psicóloga Clínica e da Saúde

Pós-graduada em Neuropsicologia de Intervenção 

Coach Profissional e Analista Comportamental

Autora

Tel.: +351 912 308 212 | E-mail: sarajoaocoach@gmail.com

 

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