LACTOBACILLUS E INTESTINO SAUDÁVEL

QUAL A RELAÇÃO?

mbora seja um assunto recente, o interesse pela microbiota intestinal e a sua importância no organismo humano é um tema alvo de interesse na comunidade médico/cientifica com mais de um século. Já no início do século XX, o cientista Elie Metchnikoff efetuou um estudo onde mencionou os efeitos prejudiciais que uma microbiota intestinal desequilibrada pode ter na saúde do hospedeiro. Abordou também no seguimento do seu estudo a possibilidade de se poderem administrar bactérias que contrariassem estes efeitos, a que chamou probióticos. (Ahern PP, Maloy KJ. Understanding immune–microbiota interactions in the intestine. Immunology. 2020;159(1):4–14.)

O que quer dizer “probiótico”?

A palavra derivada do latim, “pro” (para) e da palavra grega “bios” (vida), significando “para a vida”. Os probióticos são definidos como microrganismos viáveis que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro. Os probióticos são identificados pelo género, espécie e estirpe. A maioria dos probióticos utilizados pertence a três principais géneros: Lactobacillus, Bifidobacterium e Saccharomyces. Neste artigo vou abordar os Lactobacillus e falaremos dos outros géneros nas próximas edições, pois todos eles têm funções distintas no nosso organismo.

O que são lactobacillus e para que servem?

Os lactobacillus vivos são um grupo de bactérias gram-positivas, existem mais de 80 espécies conhecidas e têm uma relação simbiótica com os seres humanos. São muito comuns no trato gastrointestinal, boca, e vagina mas também em outras partes do corpo. São muito importantes para o sistema digestivo. Estas bactérias ajudam na digestão de alimentos, auxiliam na “quebra” de nutrientes, na absorção de minerais, na produção de enzimas digestivas e até na síntese de vitaminas, denominadas vitaminas sintetizadas microbianamente. Um exemplo de uma vitamina de síntese microbiana é a vitamina B12 por Lactobacillus plantarum. (Ler mais em https://lume.ufrgs.br/handle/10183/204091)

Uma microbiota equilibrada em Lactobacillus pode reduzir problemas digestivos, como inchaço, flatulência e obstipação. Os lactobacillus competem pelo mesmo espaço e nutrientes com bactérias patogénicas (que causam doenças). Se a parede do intestino estiver ocupada por “bactérias boas”, outras que são prejudiciais não o conseguirão fazer, certo? Estas “bactérias boas” ajudam a prevenir infeções gastrointestinais, como a diarreia causada por bactérias como a Salmonella e a Escherichia coli. Também têm um papel fundamental na microbiota vaginal e na defesa de infeções, como vaginites e vaginoses. Num estudo publicado na Revista Fronteiras da Microbiologia, observou-se uma redução significativa no crescimento de Candida albicans na presença de lactobacilos após 24, 48 ou 72 horas. (ler mais em https://revistas.unifoa.edu.br/cadernos/article/view/308)

Sistema imunológico

De certo já ouviu falar que o seu intestino deve estar saudável e o quanto isso promove um bom sistema imunitário. Os lactobacillus estimulam a produção de anticorpos, ativam uma complexa rede de sinais mediada tanto pela presença das próprias bactérias quanto pela estrutura de suas paredes celulares, ativando múltiplos mecanismos imunológicos e desta forma temos um batalhão de soldados que o vão defender dos invasores patogénicos que entram no seu organismo sem convite. (Ler mais em https://repositorio.ul.pt/handle/10451/57857).

Quais os alimentos com lactobacillus?

A indústria alimentar utiliza muito estes probióticos na produção de alimentos fermentados. De certo que se lembra da publicidade do iogurte com Lactobacillus contra a “barriga inchada”! O Iogurte é um dos alimentos fermentados mais consumidos em todo o mundo, de seguida vem o queijo. A indústria utiliza muitas estirpes deste género para fermentar os lácteos. O Kefir também é um exemplo, com recurso a uma variedade de bactérias probióticas, para quem não tolera o leite de vaca tem a opção de kefir vegetal, fermentado com bebida de côco ou de soja. Os molhos fermentados, os pickles, o chucrute… todos estes fermentados são ricos em probióticos, por isso deve inclui-los na sua alimentação diária. Mesmo com introdução diária de probióticos pode haver disbiose, pois muitas estirpes não são resistentes ao ácido gástrico e não chegam ao intestino. Uma das estirpes de Lactobacillus mais estudada é a Lactobacillus rhamnosus, pois tem demonstrado uma boa resistência e viabilidade para sobreviver à passagem gastrointestinal e para colonizar adequadamente o nosso intestino, e por isso é muito utilizada pela indústria farmacêutica e de suplementos alimentares.

Diabetes, Colesterol e Trigliceridos

Estudos mais recentes relacionam a importância dos probióticos no controlo glicémico, stress oxidativo e perfil lipídico. Por exemplo, o Lactobacillus  curvatus promove uma redução dos níveis de trigliceridos e colesterol – parâmetros associados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Como tal se a sua microbiota estiver desequilibrada terá mais propensão para as dislipidémias ou para a diabetes tipo II. (Ler mais em Journal Vascular Brasileiro, artigo de revisão sistemática – Efeitos dos probióticos no perfil lipídico)

Como saber se precisa de probióticos?

Se tomar antibiótico, deve fazer obrigatoriamente probióticos. Quais é que precisa? Se consultar um técnico de saúde habilitado na área, vai conseguir dizer-lhe perante os sintomas que apresenta, qual ou quais os mais adequados para si. Mas tem testes no mercado que pode fazer, para perceber como está a sua microbiota e depois tomar as estirpes necessárias e nas porções corretas, os probióticos não servem todos para a mesma função!

Fatores QUE desequilibram A microbiota:

•Uso de probióticos e prebióticos tomados desnecessariamente! Se tomar estirpes que não tem em défice também vai ter sintomas, e muito desagradáveis, como flatulência e inchaço abdominal. 

•Os hábitos alimentares também fomentam o desequilíbrio, pois determinados alimentos em excesso como os hidratos de carbono simples e as gorduras saturadas promovem a multiplicação de certas bactérias em excesso. 

•Prática de exercícios físicos; Cientistas da Universidade de Illinois, nos EUA, relacionaram as bactérias do intestino e a prática de atividades físicas. De acordo com os pesquisadores, o exercício pode alterar a composição e a forma como os triliões de micróbios do intestino agem. Durante as semanas em que se realizaram os testes de controlo do estudo percebeu-se que algumas bactérias aumentavam e outras diminuíam, algumas trabalhavam mais ativamente e outras menos! 

A toma de antibióticos, como referi antes, e os tratamentos de quimioterapia.

•Algumas Síndromes metabólicas também afetam o comportamento da microbiota e a sua fixação. Acontece que por vezes temos pacientes com bactérias que se fixaram no local errado do intestino ou em excesso nesse local. Por exemplo a (SCBID), super crescimento bacteriano no intestino delgado, que tem sintomas como, distensão abdominal, muitas vezes dolorosa, diarreia, flatulência, perda de peso, sintomas de deficiências nutricionais na pele, cabelo, ossos, fezes de cores claras, moles, volumosas, gordurosas e fétidas, obriga a um tratamento específico, eliminando o excesso de bactérias com um antibiótico e depois sim, repovoar devidamente.

Como vê, as bactérias exatas no local exato na quantidade certa são a resposta para um equilíbrio orgânico. Aconselhe-se com um profissional de saúde habilitado e perceba de que estirpes necessita.

Trate do seu intestino, trate de si! 

 

Por Sandra Eloi

Graduada em Práticas Clínicas Naturopáticas

Expert em Nutrição Aplicada à Clínica

Nutrition Coach de Alto Rendimento

Diretora Executiva SIISDET

CP n.º 0300440 | CP n.º 0400363

www.facebook.com/drasandraeloi

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