Professor Adriano Moreira Saúde Actual 28/10/2015 ENTREVISTAS, Prof. Adriano Moreira “Não prescindo dos pratos tradicionais de Trás-os-Montes” Presidente do Conselho Geral da Universidade Técnica de Lisboa e da Academia das Ciências de Lisboa, Adriano Moreira é, sem dúvida, uma das figuras mais marcantes do país dos séculos XX e XXI. Nascido no dia 6 de setembro de 1922, destacou-se pelo seu percurso académico (formado em Direito), mas também pela sua intervenção no mundo da política. Adriano Moreira, cuja presença nos ecrãs televisivos, enquanto comentador, é frequente, aceitou responder a algumas questões colocadas pela revista Saúde Actual, a propósito do evento realizado no início de dezembro 2012: Portugal Maior / Envelhecimento Ativo. Saúde Actual: Há muitos anos que os portugueses acompanham a sua atividade como político, advogado, sociólogo, professor e comentador televisivo. Tem sido um personagem marcante do cenário nacional e são muitos os que admiram a sua vivacidade e energia intelectual. Tem cuidados específicos com a sua alimentação? E quais? Adriano Moreira: Não sou um bom garfo, e mantenho uma sobriedade natural no que respeita à alimentação. SA: Como aliar uma alimentação racional com a alimentação tradicional que, no nosso país, é tão diversificada e apreciada? AM: Julgo que a resposta anterior é suficiente. Mas acrescento que não prescindo dos pratos tradicionais de Trás-os- -Montes. Todos exigem moderação. SA: Considera importante o recurso a atividades que visam a manutenção de um corpo mais equilibrado e saudável, nomeadamente massagens e a prática desportiva? Ao longo da sua vida, tem praticado alguma destas atividades? AM: O único exercício que sempre pratiquei são as caminhadas a pé. Ficou-me do tempo em que a ida e volta a casa, com quilómetros de distâncias, foi a maneira ao meu dispor desde o primeiro ano do Liceu (de que tenho saudades) e depois para a Faculdade de Direito de Lisboa. SA: O que é para si o Envelhecimento Ativo? AM: É manter o interesse pela mudança dos saberes e dos tempos, na esperança de que a capacidade de entender nos acompanhe. Sobretudo, o entendimento entre as gerações. SA: Qual a importância da manutenção do equilíbrio e defesa do meio ambiente e que opinião tem sobre a depredação a que se tem assistido de diversos recursos ambientais? AM: É urgente acompanhar, com informação exata, as mudanças, tendo sobretudo em vista o que é a abusiva exploração dos recursos não renováveis da Terra que é a casa comum dos vivos. SA: Esteve presente num encontro com o Dalai Lama em que estiveram em cima da mesa questões relacionadas com os Direitos Humanos. Qual a sua opinião sobre o Dalai Lama e sobre as mensagens que, incansavelmente, transmite ao Mundo? AM: É um homem que vale a pena ouvir, sobretudo porque é cada vez mais urgente o que o Padre Carreira das Neves chamou – Uma viagem pelas religiões. Tem aumentado o número dos que recusam filiação nas Igrejas institucionalizadas, mas aumenta o apelo à transcendência. O que seria desejável, se possível, seria aprofundar as investigações sobre um possível paradigma comum para a ética da organização mundial. SA: Qual a sua visão sobre o atual contexto económico-social? AM: É extremamente preocupante, e considero que a negação do Estado Social, que é uma principiologia mais do que um imperativo constitucional, equivale a deitar a esperança pela janela. Sempre o vi como uma convergência da Doutrina Social da Igreja com o Socialismo Democrático. Não é caridade, faz parte da Declaração de Deveres, proposta do ‘Interaction Council,’ em 1 de setembro de 1997, que nunca foi acolhida pelos Estados. SA: Teve um papel importante, enquanto Ministro do Ultramar, com os agora denominados países africanos de expressão oficial portuguesa. Já que conhece bem essa realidade, considera que seria importante privilegiar a cooperação económica com esses mesmos países? AM: Julgo que Portugal tem duas janelas de liberdade: o Mar, com a Plataforma Continental que não devemos descurar, sobretudo sabendo que a Comissão Europeia pretende definir o Mar Europeu, o que não pode deixar de lembrar acontecimentos como o Ultimatum de 1890, sobretudo porque terra que não se pisa e cultiva, e mar que não se navega, deixarão facilmente de ser nossos. Têm de ser nossos. A outra janela é a CPLP, que também exige maior atenção, porque, no que nos respeita, ressuscita o projeto Euráfrica. A Europa também está necessitada de que os países, pelo menos da sua frente marítima atlântica, retomem esse velho e esquecido projeto. SA: O que poderá ser, na sua opinião, um Mundo ideal? AM: Não há uma definição segura de mundo ideal. Mas é certamente um caminho começar por ter um Conceito Estratégico Nacional, que não foi ainda formulado. Nasceu perto de Macedo de Cavaleiros, licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1944, e fez o doutoramento na Universidade Complutense de Madrid. Começou por ser simpatizante da Oposição Democrática, durante o período fascista, mas com o tempo aproximou-se do regime, embora mantivesse relações de amizade com históricos oposicionistas. Foi chamado por Salazar para assumir o cargo de subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1959, chegando a ministro do Ultramar, dois anos depois. Procurou estabelecer uma política reformista, abolindo o denominado Estatuto do Indigenato, que impedia a quase totalidade das populações das então colónias africanas de adquirir a nacionalidade portuguesa e de usufruir do direito à educação. Polémica foi também a assinatura da portaria que impediu reabrir o Campo do Tarrafal, em Cabo Verde, destinado aos presos dos movimentos de libertação das colónias. Acabou por demitir-se e só após o 25 de Abril voltou à vida política. Foi presidente do CDS, deputado e vice-presidente na Assembleia da República. Por: Ana Fonseca David