Atravessando séculos, o coração tem sido considerado a fonte da emoção, da coragem e da sabedoria e um dos mais belos mistérios por desvendar. Mas será que o coração tem mesmo razões que a própria razão desconhece?
Por mais de 30 anos, o HeartMath Institute Research Center (uma organização de pesquisa e educação, sem fins lucrativos, sediada nos Estados Unidos) investigou os mecanismos fisiológicos pelos quais o coração e o cérebro se comunicam e explorou o modo como a atividade do coração influencia as nossas perceções, emoções, intuição e saúde. Desde então, numerosos estudos revelaram que a coerência cardíaca é um estado fisiológico ideal, associado ao aumento da função cognitiva, da capacidade de autorregulação, da estabilidade emocional e da resiliência.
Convencionalmente, o estudo das vias de comunicação entre o cérebro e o coração tem sido abordado numa perspetiva unilateral, focado sobretudo nas respostas do coração face aos comandos do cérebro. Porém, é já sabido que a comunicação entre o coração e o cérebro é, na verdade, um diálogo dinâmico, contínuo e bidirecional, em que cada órgão influencia, continuamente, a função do outro.
O coração comunica com o cérebro e o corpo de quatro formas distintas:
•Comunicação neurológica (sistema nervoso – transmissão de impulsos nervosos)
•Comunicação bioquímica (hormonas e neurotransmissores)
•Comunicação biofísica (ondas de pulso)
•Comunicação energética (campos eletromagnéticos)
John e Beatrice Lacey foram uns dos primeiros pesquisadores, no campo da psicofisiologia, a examinar as interações entre o coração e o cérebro. Durante 20 anos de pesquisa, nomeadamente, nas décadas de 1960 e 1970, observaram que a maneira como o coração comunica com o cérebro afeta significativamente o modo como percebemos e reagimos ao mundo exterior. Enquanto estes investigadores conduziam as suas pesquisas em psicofisiologia, um pequeno grupo de cardiologistas uniu esforços com um grupo de neurofisiologistas e neuroanatomistas para estudar áreas de interesse mútuo. Esta união representou o início da nova disciplina conhecida hoje como neurocardiologia.
Em 1991, alguns cientistas descobriram, no coração humano, mais de 40 mil células especializadas, chamadas neurónios sensoriais. Estas células especializadas são semelhantes às que existem no cérebro. E porque a sua concentração é tão grande, intitulam o fenómeno como o pequeno cérebro no coração.
Uma das primeiras descobertas é que o coração tem uma rede neural complexa que é suficientemente extensa para ser caracterizada como um cérebro no coração. O Sistema Nervoso Cardíaco Intrínseco é, então, uma intrincada rede de gânglios complexos, neurotransmissores, proteínas e células de suporte. Os circuitos neurais do coração-cérebro permitem que ele aja independentemente do cérebro craniano para pensar, aprender, lembrar, tomar decisões e sentir. Efetivamente, o coração é o único órgão do corpo humano que funciona sem a dependência do cérebro. Trata-se de um órgão inteligente e com autonomia que, ao que tudo indica, tem uma consciência, uma perceção e uma memória próprias.
Sabe como ter acesso à linguagem do seu coração, de modo a despertar a sua própria intuição e sabedoria? Na realidade, sempre fomos ensinados a integrar que o cérebro é o órgão mestre do nosso corpo e, de facto, é muito importante. No entanto, sabemos hoje que o coração envia sinais ao cérebro com instruções precisas sobre o que fazer. Ilustrando esta descoberta, existem mesmo algumas culturas e tradições indígenas em que, desde o seu nascimento, as pessoas são estimuladas a pensar, a aprender, a lembrar e a interpretar o mundo exterior através dos seus corações. Só depois o fazem recorrendo ao cérebro. Em Provérbios 4:23 também podemos ler: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”
Na verdade, temos a maravilhosa possibilidade de harmonizar o nosso coração e o nosso cérebro, conciliando o sistema nervoso entre o coração e o cérebro, sintonizando os neurónios sensoriais do coração aos neurónios do cérebro. Dois órgãos e uma potente rede neuronal. Regulando esta ligação, sintonizando esse poderoso sinal, abrimos a porta a experiências extraordinárias de saúde e cura para as nossas vidas.
Experimente agora mesmo estabelecer essa conexão:
1.Feche os olhos para mudar a sua consciência do mundo exterior para o mundo interior;
2.Mude o foco da sua mente para o seu coração, colocando as suas mãos em posição de prece, levando-as nessa posição ao centro do peito e fazendo uma leve pressão;
3.Abrande a sua respiração, respirando mais lentamente do que o normal (inspire em 5 segundos e expire também em 5 segundos);
4.Faça uma pergunta ao seu coração (uma das que faz a diversas pessoas e obtém respostas diferentes de todas);
5.Escute a resposta. O coração não tarda a responder com uma declaração curta, concisa e com muito significado para si. O coração não conta histórias, é livre de julgamentos e medos.
A visão do HeartMath Institute Research Center é a de um mundo mais gentil e centrado no coração, onde cuidamos uns dos outros e vivemos em paz. Têm centrado, especialmente, a sua pesquisa no que intitulam de “A Coerência do Coração” ™, sendo esta um estado de alinhamento cooperativo entre o coração, a mente, as emoções e os sistemas físicos, ampliando este conceito para a coerência pessoal, social e global.
Aprender a ativar as qualidades do coração, com gratidão, aceitação e compaixão, aumenta a nossa coerência pessoal. Como a nossa coerência pessoal é transmitida através do nosso campo energético, ela tem um impacto benéfico sobre os outros, sobre a comunidade social. E conectando uma inteligência coletiva do coração, abrimos caminho para uma pulsação uníssona com o potencial de transformar e elevar a consciência global.
Por Sara João
Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses; Fundadora da Marca e do Programa
Travel 2 Be U®; Psicóloga Clínica e da Saúde; Pós-graduada em Neuropsicologia de Intervenção;
Coach Profissional e Analista Comportamental; Autora.
Tel.: +351 912 308 212 | Site: www.sarajoao.pt
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