“Nada no mundo pode impedir o homem de se sentir nascido para a liberdade.

Jamais, aconteça o que acontecer, ele pode aceitar a servidão: pois ele pensa.”

Simone Weil

 

Numa história que se conta sobre uma experiência científica, relata-se que um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio da jaula, uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.

Quando um dos macacos subia na escada para agarrar as bananas, era expelido um jacto de água fria para os que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros agarravam-no e agrediam-no.

Passado algum tempo, nenhum macaco subiu mais a escada, apesar da tentação das bananas.

Posteriormente substituíram um dos cinco macacos por um novo. A primeira atitude desse macaco foi subir a escada, para tentar agarrar as bananas. Tendo sido imediatamente retirado pelos outros, que o agrediram violentamente.

Depois de algumas tentativas e respectivos espancamentos, o novo integrante do grupo deixou de tentar subir a escada.

Um segundo foi substituído e a mesma situação ocorreu – tendo o primeiro substituto participado com entusiasmo na agressão ao novo macaco.

Um terceiro foi trocado e o mesmo se verificou. Um quarto e, afinal, o último do grupo original foi substituído.

Os cientistas ficaram então com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo recebido o jacto de água fria, continuavam a bater naquele que tentasse agarrar as bananas.

Se fosse possível perguntar a algum desses macacos porque é que eles batiam em quem tentasse subir a escada, é bem provável que a resposta fosse:

“Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui”.

Esta pequena história serve-nos para relembrar a importância do pensamento crítico em contextos muito especiais da história e em circunstâncias muito especiais da vida em sociedade. Nem sempre a opinião da maioria é a opinião correcta, nem sempre a opinião publicada é a opinião pública.

“Você vê coisas que existem e se pergunta porquê.

Eu imagino coisas que não existem

e me pergunto porque não?”

George Bernard Shaw

Mas pensar de forma diferente e manter o sentido crítico, neste tipo de circunstâncias, é um acto de coragem. Porque num processo destes, é bem provável que aquele que expressa a opinião divergente da maioria se sinta sozinho, excluído, rejeitado, abandonado… Algo que o pode transportar ao passado e a reviver memórias pouco ou nada agradáveis que trazem sofrimento.

Assim, evitando esse confronto e possível divergência, que os faz mexer numa ferida emocional antiga, muitos se obrigam a engolir um sapo de concordância com algo que não lhes faz muito sentido.

Outros, assumindo essa divergência, são apelidados de estranhos, diferentes ou vistos como uma espécie de ovelha negra (aquela que, na verdade, vem tentar salvar o rebanho) – ou, pegando na história da jaula de macacos, aquele que tenta subir a escada para agarrar as bananas.

Mas essa atitude tem um preço alto para pagar: muitas vezes se fica isolado.

“Não é sinal de saúde estar bem adaptado

a uma sociedade doente.”

Jiddu Krishnamurti

 

Mas tal como defendiam os pensadores estóicos, que propunham que só há uma pessoa capaz de nos perturbar, podemos também extrapolar que só há uma pessoa capaz de nos aprisionar ou nos excluir na nossa mente – e essa pessoa somos nós.

Porque é que é importante lembrar isto?

Num altura de confinamentos e restrições às liberdades é bom recordarmo-nos que nos podemos adaptar às circunstâncias sem perder o sentido crítico sobre o que acontece à nossa volta.

Mantermo-nos na nossa verdade e testemunhando, sempre que possível e de forma inteligente, uma perspectiva diferente sobre os acontecimentos é compatível com uma postura adaptativa e funcional.

Não perdemos a nossa liberdade – porque essa permanece intocável na nossa mente – e atenuamos o nosso sofrimento com uma militância sábia e funcional de divergência de opinião, sem entrar em conflito directo com as opiniões dominantes à nossa volta.

Escolhemos os momentos e as circunstâncias de forma inteligente, e seleccionamos criteriosamente os nossos interlocutores para a partilha da nossa estimada opinião – em vez de a gritarmos do alto de um palanque para uma multidão que não a quer ouvir.

No final, importa lembrar o direito essencial e inalienável a pensarmos de forma diferente, que a ovelha negra pode ser a salvadora do rebanho e que os nossos medos de pensar diferente podem tocar em feridas emocionais, que mais cedo ou mais tarde nós teríamos de trabalhar.

Ah, e é bom também lembrar que o patinho feio era um maravilhoso cisne.

Fiquemos bem, ou melhor ainda!

 

Por Mário Rui Santos

Hipnoterapeuta

Formador da Hypnos/SPHM

Coordenador GPHM

 

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*a pedido do autor, este texto não segue as normas do acordo ortográfico